1.11.10

Sofá...

Devia ter um sofá mais fofo, mais macio, onde me pudesse afundar com a facilidade com que nos afundamos numa cama de algodão. O sofá devia ser mais fundo, porque a minha vida afundar-se-á nele todos os dias, um dia, uma hora, um minuto, um segundo de cada vez, nesta vida solitária. Imagens que passam diante dos olhos mas que a retina não fixa, como que alheada, seguindo o tique taque do relógio, que resta sobre a lareira, que não queima... tal como eu, já não queima, com o vigor da juventude e, que agora, como eu, se limita a estar ali, à espera... à espera... de nada... à espera que o tempo se limite a passar, a olhar as sombras na parede das imagens que passam e não permanecem, como tudo na minha vida... como se fosse a evidência de que jamais voltará a queimar...
O sofá, assim, rijo, obriga-me a mexer e a mudar de posição e, neste momento, não me apetece, porque tenho de render-me à evidência de que a minha existência irá permanecer tal como a lareira... sem nada para queimar...